E assim ela segue, tentando convencer a si mesma e ao mundo de que está feliz. Desenha um sorriso no rosto como quem desenha um boneco sorrindo no papel, vai ver que assim fica mais fácil de encarar o dia, e a vida. Carrega por trás dos teus olhos castanhos e reluzentes uma carga de dor, um punhado (e eu diria que muito grande) de confusão, e mais umas doses de sufoco. Chora sozinha, e sofre tanto, e guarda minúcias em demasia, que às vezes os estranhos lhe parecem tão confidentes quanto a sua própria alma, ou quanto o espelho do banheiro, com quem conversa por vezes incontáveis. E aí, sem ao menos perceber, ela descarrega as suas amarguras em pessoas que nem tiveram oportunidade em demonstrar (ou não) interesse por suas histórias. E assim ela vive, mentindo para si mesma e deixando que a vida, e todas as histórias superficiais que lhe circundam, decidam de qual modo ela deve se postar, os lugares para onde pode ou não ir, e os sentimentos que deve se esforçar para serem reais. Ela sabe que não tem a menor condição de jogar tudo para cima e viver como quer, talvez por medo, e por outros inúmeros motivos, em sua maioria criados por sua mente inibidora. Ela sabe que há muito o que sofrer até chegar onde quer, até viver o que deseja e sentir o que lhe convém, tanto quanto quem se apaixona e sente o ardor natural de viver um intenso (e verdadeiro) amor. Ela não sabe o que é ter felicidade, ou talvez até saiba, mas está tão perdida em suas confusões e anseios não saciados, que acaba não atentando aos detalhes prazerosos que a rodeia.
Essa menina, a qual todos julgam ter todos os motivos para ser feliz, esconde um mundo obscuro em sua alma, e por mais que ela queira ser uma verdade, desenhou no papel e se convenceu a ser exatamente como as pessoas ao redor precisam que ela seja: tudo, menos o que realmente é.